sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O PERSONAGEM E A MORTE

Tenho que manter muita coerência entre o que penso, digo e realizo. Será que tenho mesmo? As contradições não fazem parte da nossa humanidade?
Não posso me deixar levar por desespero nem cultivar a desesperança. É preciso manter o equilíbrio e saber aceitar momentos de dificuldades como inevitáveis. Não posso ter a pretensão de acreditar que este momento não chegaria. Ele chega para todos nós. Tinha muito medo de enfrentá-lo. Não sabia como reagiria que sentimento apareceria. Quando foi com meu pai ainda era jovem. Foi diferente. As emoções se misturavam. Era um misto de dor e insegurança, mas o futuro se descortinava na minha frente. Acreditei que o tempo me faria entender muitas coisas.
Agora, apesar da enfermidade que já se instalara e da qual eu procurei me manter afastada –pela minha incapacidade de lidar com ela- por antever a morte, percebo que fugi a vida inteira da única certeza da vida. Como outrora os sentimentos continuam misturando-se em minha cabeça(ou no coração?) Por que só penso? Por que racionalizar tudo? Devia me deixar sentir, esgotar os sentimentos até a última gota. De que? Se nem choro. Sei que devia chorar. Por que não consigo? Sei que a dor é grande. Ou devia ser?
Sinto que me arrancaram as raízes. Pairo solta no espaço.

Publicado no site: www.usinadaspalavras.com ( A MORTE)

Data: 2007.09.10

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